A mulher – um pássaro engaiolado

Por Alice Coelho

Você já se imaginou como um pássaro engaiolado?

O que aconteceria se todas as mulheres relatassem a verdadeira história sobre sua vida, sem receios?

Muitos que a circundam, se surpreenderiam?

Era muito comum até a década de 60, essa ser a condição de muitas mulheres.

Como perceber se você é uma mulher presa, como um pássaro, numa gaiola e precisa se libertar?

Escrevo inspirada na poesia Maya Angelou: O Pássaro Engaiolado: “O pássaro engaiolado canta com um gorjeio temeroso que fala de coisas desconhecidas, mas ainda assim ansiada e sua canção é ouvida na colina distante, pois o pássaro engaiolado canta pela liberdade.”

A gaiola, pode ser no espaço físico, mas muitas vezes, é um arranjo mental da mulher, que mostra-se sólida, inflexível, completa, cabal, mas que não permite que ela passe pela porta. A gaiola, pode ser a projeção que nossos pais nos impõem, visando realizar seus desejos, prestar satisfação social, ou atestando que sabem o que é melhor para nós e que devemos obedecê-los.
Algumas mães engaiolam suas filhas, pois tentam através delas, realizar os seus sonhos e desejos pessoais. Objetivam autorrealização através da filha. Outra forma da mãe prender sua filha é atribuindo a ela, imagens e ideias negativas, ou atribuindo à mesma fragilidades, levando sua filha a não conseguir se rebelar e lutar por sua independência, ficando presa a um relacionamento tenso e ressentido.

Alguns maridos, comportam-se como vigilantes de gaiola, ou melhor da própria esposa. É perceptível, um número expressivo de mulheres que saíram da gaiola da casa dos pais, para se casar, mas ao assumirem a função de esposa, se amparam na gaiola do casamento.
Infelizmente, muitas mulheres vivem presas em gaiolas, sofrem, reduzem suas personalidades, cerceiam seus desejos, controlam suas identidades e limitam suas realizações. As gaiolas adoecem! É comum na clínica, no exercício de cuidar de dores emocionais femininas, nos depararmos com mulheres desesperadas, suportando cada dia.

Com medos e atoladas em desespero, vão adoecendo e constatando sintomas. Buscam preencher seus vazios, como hábitos fúteis, vícios, desenvolvem distúrbios, abusam de tentativas superficiais, para esquecer que estão engaioladas. É preciso assumir o controle de sua vida. Transgredir. Estar comprometida com seu crescimento pessoal, valorizar as próprias conquistas e abrir a porta da sua gaiola rumo à liberdade.

Qual sua parte que está sem voz ou que tem a necessidade de liberdade? Ainda hoje, as estruturas sociais não nos permitem, concretizar, vivenciar às nossas habilidades criativas. Estamos evoluindo, conseguindo falar sobre os nossos direitos, entendendo que podemos viver num modo mais próximo aos nossos ritmos naturais, com nossas necessidades, nossos desejos e capacidades, porém temos muito a fazer.

Ainda existe um sistema, um conjunto de barreiras e forças, que reduz a mobilidade das Mulheres. Expectativas alheias, a necessidade de aprovação, o medo, direitos legais, crenças limitantes, que “impedem” a mulher de exercer sua liberdade. Se faz necessário, promover mudanças no seu espaço interior.

O processo terapêutico auxiliará a perceber “vazios” e gaiolas. Revelar que você não está sozinha e que acabou o tempo de esperar. Que é necessário, mergulhar no espaço interno, usufruir de sua intuição e conseguir abrir portas para um voo livre.
A terapia pode ajudar nessa busca de amor e direção do seu eu secreto. Pode ajudar a desenvolver amor-próprio, autoconfiança, a sentir-se menos culpada por tentar se afirmar e realizar aquilo que deseja. O autoconhecimento amplia consciência e aumenta suas chances, para assumir nova condição, expressar seus sentimentos, exercitar seus talentos, renovar suas relações. A mulher poderá cuidar melhor de si e do próximo.

Alice Coelho – Analista Junguiana. Especialista em Psicologia Analítica -IJBA. Mestranda em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento. FUNIBER. Pós- Graduada em Psicoterapia Analítica e Processo Criativo e Facilitação de Grupos – Universidade Bahiana de Medicina/IJBA. Formação em Psicologia nos extremos. Curso reconhecido pelo MEC. Foco Suicídio, autolesão. Coach pela ICI – Integrated Coaching Institute.