Um Passeio Pela Psicologia Hospitalar

Durante estes anos todos de minha prática profissional, uma área que me agrada e à qual dispendo uma certa atenção e cuidados, é a Psicologia Hospitalar. Quantos pacientes passaram pela nossa vivência, minha e de meus alunos e supervisionandos e que tanto nos enriqueceram! Pacientes angustiados, tentando compreender a dimensão psiquíca e o significado de suas doenças; familiares que se sentem tanto “perdidos” pela internação de uma pessoa querida quanto com raiva por ter que modificar sua rotina devido este momento; ansiedade pela alta do paciente e este, por sua vez, muitas vezes também se questiona em como estará ao sair do hospital? Em como será sua vida depois da internação? Assim como tivemos diversos casos, nos quais os pacientes “pioravam” ao pensar na alta, não querendo retornar à vida anterior, na mesma casa, com os mesmos familiares. Outros por serem “moradores de rua” e preferiam estar no hospital, pois estar ali, internado, era uma garantia de terem casa e comida!

Como é rico esse trabalho em hospital. Trabalhamos em Hospital Geral, atendendo em diversos setores, “clínicas”, “alas”, denominações diversas, apontando para UTI, Semi-UTI, CTI, Clínica médica, Pediatria, Enfermaria, Psiquiatria…entre outros setores do ambito hospitalar.

Mas para pensarmos nesta área de atuação é de fundamental importância entendermos o que é a Psicologia Hospitalar? Segundo Simonetti (2004, p.15):

 “ É o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. “

Ou seja, não trabalhamos com as causas, fatores desencadeadores possíveis das doenças, mas sim com os diversos aspectos a ela relacionados. Com a subjetividade de cada paciente e quais os aspectos psicológicos que o “doente” manifesta perante ao seu distúrbio, por exemplo: quais são as suas fantasias, medos, emoções, desejos e crenças em relação à  “doença” por ele apresentada?

E quais seriam as funções e objetivos da psicologia hospitalar? Um trabalho muito importante seria o de resgatar a auto estima dos pacientes, fazer vir a tona os aspectos saudáveis existentes em seu interior , ativar, se assim podemos dizer, seu “curador interno”, fortalecendo sua resiliência.

Outro ponto importante, se refere à compreensão a respeito de sua  “doença”, quais os tratamentos, possibilidades de recuperação, etc…  Muitos familiares e pacientes parecem não compreender o que o médico diz, as vezes devido a própria ansiedade e, em outros momentos, devido a negação da doença, o familiar parece não acreditar no diagnóstico, entre outras questões que tornam a compreensão algo complicado, complexo.

Outra questão comum é que os pacientes,  geralmente, venham a apresentar raiva, revolta, depressão e, em uma etapa posterior, começam a surgir sinais de enfretamento em relação à doença em si e em como lidar com ela. Simonetti (2004), coloca sobre o luto e a luta. O luto estaria relacionado com as perdas que essa doença pode provocar, por exemplo, não poder comer determinadas comidas, não poder fazer alguns exercícios… e a luta em adquirir novas habilidades e atuação.

Uma outra parte de nosso trabalho, é o atendimento aos familiares. Estes geralmente apresentam diversas dúvidas e questionamentos, tanto em relação ao tratamento, quanto ao diagnóstico e prognóstico… Os familiares e acompanhantes são atendidos para que possam expressar suas dores, fantasias e temores. O atendimento pode ser realizado de forma individual ou em grupo e, no atendimento, são orientados em como agir junto ao paciente. Isso é de fundamental importância, pois em diversas ocasiões, o paciente não quer aquela visita e, em outros casos, o paciente apresentava piorava depois de certas pessoas que iam vê-lo.

Um fenômeno que se apresenta, é o que denominamos “Órbita da doença” (Simonetti, 2004). E o que seria? Quando uma pessoa é internada, a vida, a rotina dos familares, dos acompanhantes é modificada devido esta internação. Tudo passa a funcionar ao redor de uma nova adaptação: quem ficará com a pessoa internada? Quem irá visitar? Quem estará na UTI? Quem será o responsável por falar com os médicos e saber do quadro de saúde? E como a disposição física da casa está sem a presença de quem está internado?… Entre tantos outros questionamentos.

Também verificamos qual o  “ganho secundário” dessas internações, tanto na vida do paciente, quanto dos acompanhantes e familiares. Inúmeras fantasias e necessidades  surgem  durante os atendimentos e precisamos estar preparados para esta escuta diferenciada e poder acolher o sofrer sem ideias pré-concebidas e sem julgamentos.

É importante ressaltar que esta é uma escuta sem interpretações pois sabemos muito pouco dos aspectos da psique do paciente, de como está seu ego e o quão fragilizado possa estar nesse momento. Podemos sim, posteriormente, encaminhá-lo para psicoterapia caso haja a necessidade.

O atendimento dos profissionais do hospital como enfermagem, fisioterapeutas e médicos, é um outro aspecto do trabalho do psicólogo hospitalar. Tanto os pacientes quanto os familiares projetam muitas questões em relação aos profissionais e este é um material muito rico e importante a ser trabalhado. O oposto  pode ocorrer, muitos porifssionais da equipe também projetam algumas questões nos pacientes e familiares. Ambos os lados são alvos de diversas projeções, enaltecedoras ou pejorativas e aqui, a nossa intervenção, tem papel primordial na resolução de diversos  conflitos.

Podemos escrever horas sobre este belo trabalho do Psicólogo Hospitalar. Mas, aqui, fica um breve resumo para reflexões, curiosidades e aberturas para essa linda área de atuação!

Referências:

  • BILOTTA, Fernada ;A. AMORIM, S. (orgs) A psicologia junguiana entra no hospital: diálogos entre corpo e psique. São Paulo: Vetor, 2012.

  • MORENO, M.Teresa.Nappi. Raiva, uma das emoções ligadas á gastrite e esofagite. São Paulo: Vetor, 2007.

  • SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

Dra. M. Teresa Nappi Moreno: Professora e supervisora do IJEP, Analista didata do IJEP.