Authentic Games: Vivendo uma Vida Autêntica

Somos a ponte entre a percepção do mundo em nosso entorno – o mundo da luz – e o da percepção inconsciente – o mundo das trevas. Como resultado temos a imagem do mundo em que vivemos o qual nos orienta na adaptação da nossa realidade. O mundo da luz nos deixa alheios ao que acontece na escuridão da alma, mas é na combinação dessas duas condições que nasce o “Espírito do Tempo”.

O filósofo Hegel difundiu zeitgeist como o “Espírito do Tempo”. Trata-se da alma de uma época que se expressa no clima intelectual e cultural do mundo. As incertezas, a rapidez da busca, e o excesso de informações do mundo atual fazem parte do “Espírito do Tempo”. Muitos pertenceram a um mundo agora considerado obsoleto, ou seja, adquiriram experiências que não se aplicam mais aos filhos.

A crítica literária americana Meghan Cox Gurdon classificou os livros infanto-juvenis de sombrios, com temas impróprios para a idade a exemplo da prática da automutilação. Foi chamada de idiota pelos jovens. Acusada de ignorante e irresponsável por ser contra o hábito deles de leitura. Impingida também em ter falhado no entendimento das brutais realidades enfrentadas pelos adolescentes modernos.

O universo infanto-juvenil retornou ao hábito de leitura, mas dentro do “Espírito do Tempo”. As categorias de livros mais vendidos, divulgados pela imprensa, não são somente ficção, não-ficção e autoajuda como era há pouco tempo, acrescida agora da categoria infanto-juvenil.

Em primeiro lugar está o livro “Authenticgames: vivendo uma vida autêntica”, de Marco Túlio, 19 anos, que se tornou um dos Youtubers famosos atualmente.

O livro de Túlio foi escrito em linguagem simples para contar fatos marcantes de sua vida. Nessa obra, a comunicação não é escrita em modelo culto. Ele usa palavras do “internetês”. Faz também uma comunicação visual com o tamanho das letras e grafismos cujo design fala por si só. Há momentos em que seu texto parece sussurrar, e ora fala alto ou em tom normal. Às vezes o texto se mistura a fotos de modo que não somente seu conteúdo verbal, mas também estético ou anárquico nos revela esse mundo que os mais velhos desconhecem. Isso torna acessível aos educadores e pais a compreensão dessas ideias a respeito dos conflitos e coisas próprias desse universo juvenil. É um tipo de comunicação rápida que atende ao “Espírito do Tempo”.

Tais livros infanto-juvenis escritos por jovens, incutem o hábito de leitura de forma a poder se incluir no “Espírito do Tempo”. A constatação hoje é de que as pessoas preferem assistir ao conteúdo de um livro em vídeos a ter de ler um livro. Há nessa geração um pedido explícito para mudar o hábito de leitura e o modo como os livros se expressam.

A internet integra texto, som, imagem e vídeos, a baixo custo ou mesmo nenhum. Qualquer autor que tenha talento não dependerá de suas condições econômicas para expressar o seu lado criativo. Torna-se estimulado a buscar seu lugar de importância no mundo e a ensinar aos seus pais e educadores as situações sérias e angustiantes por que passam. Em vez de tirar a internet do jovem, precisamos educá-los a usá-la. Bloquear a internet é sair do “Espírito do Tempo”. Isso pode tornar a obrigatoriedade da leitura, aquela que está fora desse espírito, em um castigo maior.

Os pais temem os traumas, que possivelmente se sentem vítimas, ou uma nova onda transforma tudo em possibilidades de um mal educar. Para evitar a revolta de seus filhos, os pais vivem a incerteza do que fazer e parece que adotam a postura de evitar, a todo custo, frustrá-los. Evitam a tensão em si mesmos, de tudo que foi experimentado ao longo dos anos, em suas coleções de frustrações. É uma época de muitos desafios na escolha de caminhos. Os pais não sabem como ajudá-los, já que o talento quando confrontado com a inserção no mercado de trabalho pode gerar uma crise no silêncio dos pais que apenas sentem a escolha do filho com frustração, enquanto o jovem que conhece os valores dos seus pais percebem que não os tenha agradado.

O grande avanço tecnológico se contrapõe à imaturidade político social que poderia levar a um avanço pedagógico a atender o “Espírito do Tempo”. A função intuição, por exemplo, exige seu lugar na educação. No mundo virtual, nomeia-se de intuitivo aquele programa que tem uma interface que facilita operá-lo mesmo sem estudar seu passo a passo. Não há muito tempo, com tantas informações multifacetadas, marcar e acertar em avaliações de múltipla escolha demandava intuição. O modo perturbador das avaliações atuais – anular com um erro uma resposta correta – vai habituando o candidato a não confiar nessa aprendizagem que se esconde em nossas entranhas psíquicas com o nome de intuição.

Estamos entre o “Espírito do Tempo” e o “Espírito das Profundezas”. Para dialogar com essas condições, precisamos respeitar nossas figuras da imaginação e saber dar sentido simbólico a esses acontecimentos para que o eu consciente possa acolhê-lo. Essa é a tarefa que faz o homem perceber seu ritmo interior e seguir o seu caminho único. Marchar com o seu ritmo pessoal, resistindo bravamente ao barulho infernal dos tambores que rufam lá fora. Este é o desafio para evoluir.