Envelhecimento e o Novo Velho: Um Olhar Sob o Ponto de Vista da Psicologia Analítica

Estima-se que em 2025, no Brasil, haverão cerca de 32 milhões de pessoas com mais de 65 anos de idade. Esta estimativa colocará o país como sendo o 6º colocado com o maior número de idosos no mundo. Este é um dado que nos leva à algumas reflexões, tais como: como será nossa sociedade? como trabalhar com esses idosos? o que eles nos tem a dizer? como a psicologia analítica pode contribuir na compreensão dessa nova fase?

Para que  possamos refletir a cerca destas questões do envelhecimento faz-se necessário entendermos tanto o seu processo quanto as questões que nele estão envolvidas.

“Chamamos de ‘envelhecimento o conjunto de alterações que ocorrem progressivamente na vida adulta e que, frequentemente, mas não sempre, reduzem a viabilidade do indivíduo”. (Vargas, 2009, p.26).

Esse processo inicia-se entre os 45-60 anos de idade, já na fase da maturidade, e pode ser considerada como a idade do primeiro envelhecimento. Alguns autores classificam estas faixas etárias com pequenas variações como citaremos a seguir.

Para Helen Bee (1997) a faixa etária entre os 40-65 anos é nomeada como vida adulta intermediária e, após os 65 anos, encontra-se a fase tardia da vida adulta.

Para Prétat (1997), analista junguiana, é entre os 50-70 anos que vivemos a fase liminar tardia. Segundo essa autora este pode ser um período de novas transições e de questionamentos sobre a vida e o modo de ser do sujeito permitindo, a si, um espaço de reflexões que podem, ou não, torná-lo confuso e desorientado. A autora utiliza o termo “liminar-tardio” diante as provações da última fase da vida por este descrever, de forma adequada, a linha tenue entre a antiga e a nova maneira de ser do indivíduo.

Na terceira e na quarta idade (a partir dos 80 anos), verificamos uma acentuação, polarização das características positivas e negativas do indivíduo. Isto poderá fazer com que haja uma maior dificuldade em como lidar com eles e seu relacionamento interpessoal tornar-se, ou não, prejudicado por tais questões.

Já Jung (1928/1984) divide as etapas da vida humana em 4 períodos:  infância à puberdade; juventude, que seria da puberdade até os 35-40 anos; meia-idade e a velhice. Todas essas classificações não são rígidas e nem pré-determinadas, as alterações podem ocorrer antes ou depois dessas idades.

Ao levarmos em consideração as questões abordadas por Prétat (1997) podemos pensar a fase “liminar – tardia” como sendo uma terceira fase da adolescência em nossas vidas.

Na fase da adolescência temos a ativação do arquétipo do herói – herói de ação – que empunha a espada na luta para a sua separação do mundo dos pais e da sua infância. No envelhecimento também ocorre a constelação do arquétipo do herói, porém é um herói predominantemente contemplativo.

Galiás (2012) considera que a acão do herói no processo de senescência é reflexiva, trazendo a possibilidade do desapego e visando a passagem da vida adulta para a velhice.

Nas fases de transições, geralmente, ocorrem grandes mudanças tais como os momentos de confronto com diversos aspectos da Sombra, elaborando e integrando novos conteúdos. É o processo de individuação, e em toda a sua obra, Jung fala da importância desse processo e que na segunda metade da vida também temos tarefas de ‘auto-regeneração (1928/1984).

Nesta fase do ciclo do desenvolvimento da personalidade estariam ativados os arquétipos do “velho e da velha sábia”.  Esses arquétipos da sabedoria estruturam a nossa consciência cósmica e podem ser considerados com sendo responsáveis pela nossa vivência do Todo e do sentido de amor da vida. Sabedoria em como lidar com velhas questões com um novo olhar, e, novas questões com um olhar vivencial. É uma fase de preparo para um ciclo final e de desapego à diversas coisas materiais ou imaterias. Uma fase para o novo e para o desconhecido.

Os arquétipos do puer auternus e da puella aeterna também podem ser constelados neste ciclo de vida e muitas vezes de um modo adequado favorecendo a não polarização do “velho e velha sábia”. Guggenbühl-Craig (1997), diz que temos que tomar cuidado com a inflação e a identificação com o “velho (a) sábio (a)”.

Interessante pensarmos a colocação feita por Gálias sobre esse período:

“O envelhecimento e seus caminhos vivos, dentro do processo de individuação, ainda não fazem parte da nossa consciência coletiva. Não temos, ainda, reflexão suficiente para podermos trocar os preconceitos por conceitos. Estamos, creio, nessa busca. “(2102, p.23)

Não temos no consciente coletivo uma nova imagem sobre o novo velho atual, ela está em processo de construção, descontrução  e elaborações.

Finalizando essa breve reflexão, gostaria de citar Jung (1928/1984), em relação à infância e à extrema velhice.

“São totalmente diferentes entre si, mas têm algo em comum: a imersão no processo psíquico inconsciente… A alma da criança se desenvolve a partir do inconsciente… E a das pessoas muito velhas mergulham novamente no inconsciente, onde desaparecem progressivamente. A infância e a extrema velhice são estados de vida sem qualquer problema consciente; por essa razão eu não as levei em consideração nesse meu estudo.” (par. 795).

Cabe a nós estudarmos sobre o envelhecimento, a infância, e, o velho novo ou o novo velho?!